segunda-feira, 26 de novembro de 2012


Os meus olhos ficaram baços, escureceram, deixaram de brilhar
como se os tivesses queimado com um ferro candente
mas n
ão, não sou mais a tua vítima
ceguei mas agora vejo melhor que nunca quem és
o enevoado não o é mais
abafaste o som da guitarra, destruiste os meus cristais
o baloi
ço entristeceu e levou com ele tudo o que Deus me deu
Senta-te, senta-te junto dessa mesa mas dela n
ão te aproximes,
pois comigo só à mesa se sentam aqueles que não trazem queixumes.
No meio de aptid
ões e sonhos
apunhalaste-me pelas costas, sem dar largas à imagina
ção
sem teres no
ção das consequências
apuraste os meus sentidos
espalhaste as minhas aguarelas
alojaste e aquentaste a minha alma,
deste-me um abrigo
mas esse abrigo foi-se tão depressa como chegou.
Foi díficil, mas fui-me apercebendo da pior maneira
que eras só mais uma fatia de pão sem sal no meio de tantas,
uma sardinha dentro de tantas latas e eu nem de sardinhas gosto.
O meu mérito está aquém do que imaginas,
és apenas mais um escravo que estancou, vê se atinas
como homem que és, deste o mundo que tinhas a teus pés
ungiste todas as partes do meu corpo, mas não as limpaste
generalizaste todas as minhas qualidades e defeitos
mas não as tornaste especiais
tornaste banal tudo o que era urbano
tornaste rotina tudo o que era dano
deixaste-me ir até ao ultramar
e ficaste em terra sem saber remar.

[RC]
23 Novembro 2012