terça-feira, 24 de julho de 2012

esse ar atordoado
catatónico, superficial,
tudo rasgado
actividade paranormal
pálpebras que pesam
olhos semi-cerrados
corações que não rezam
amores roubados
presa nesse olhar,
nessa memória
tudo foi em vão
fiel à tua glória
por ti, eu dou a mão
por ti eu faço tudo
o que der pra agarrar
por ti um grito mudo
um beijo, um suspirar
antes que a hora chegue
agarra o que é teu
para que se não pegue
com as estrelas do céu
porquê? pergunto eu
mas há perguntas
que não te ecoam nos ouvidos
e no meio de destemidos
finges não ver
isso que eu tanto tento perceber
questiono se serei só mais uma
de entre as tuas bailarinas
ou se é desta que atinas
e me dás valor
não inflinjo dor
nem gosto de pressionar
só quero que o gostar
possa vir a ser amor
e no dia em que as palavras
forem desnecessárias
aí eu estou contigo
nas situações várias
não pretendo que digam
que somos um só
pretendo que te unas
não que dês o nó
que vejas em mim
a tua melhor amiga
mas acima de tudo
que em situações de briga
possas ser o meu irmão
e que a teu lado permaneça
nada será em vão
o para sempre não existe
enquanto durar durou
se puder ser muito tempo
é sinal que a gente amou

[RC]

segunda-feira, 23 de julho de 2012

palavras


palavras que foram em vão
palavras em demasia
palavras, minha teimosia
para quê?

palavras, palavras, palavras
palavras sem destino
palavras sem tino
palavras que mino
para quê?

palavras sem custo
palavras dadas
palavras de embusto
palavras cravadas
para quê?

palavras de amor,
palavras de dor
palavras de crença
palavras de indiferença
para quê?

ao acordar,
mil e uma desculpas
ao dormir
repetes as voltas
para quê?

palavras,
palavras que me fazes engolir
tua vez, minha a seguir
para quê?

mais uma mancha escura
se sobrepõe à que tinha cor
e vais morrendo
nessa dor 
que perdura
não és já nada do que foste
e por mais que aposte
esse teu último suspiro
é em vão
já nem admiro
será somente isso, um suspiro

palavras, palavras demais
palavras banais
palavras sem cais
para quê?

surpreendo
vou embora
e o que sempre tiveste
deixaste de ter
o nada não demora
o importante é viver

com ou sem palavras
sem a tua presença
palavras minha inocência

[RC]

segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Vive, dizes, no presente;
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro.
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas existirem.
Eu quero só a realidade, as coisas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas coisas como presentes; quero pensar nelas como coisas.
Não quero separá-las de si próprias, tratando-as por presentes.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma."

Alberto Caeiro



quinta-feira, 12 de julho de 2012



Não falo de ti,
quanto muito falo de mim.
Falo da minha imagem reflectida no espelho,
falo da minha sombra,
do meu retrato,
da minha caricatura,
das minhas feições e afeições,
falo dos meus defeitos e preconceitos,
do que adoro, do que odeio
do que colho, do que semeio
mas nunca de ti.

Para quê pronunciar palavras que o vento vai levar?

[RC]