quinta-feira, 30 de agosto de 2012


Não tenho medo.
Não tenho medo do escuro
não tenho medo da morte
não tenho medo do mundo
não tenho medo da sorte
só tentando sabemos
se perdemos, se vencemos
somos todos, somos tudo,
somos nada, sou mudo
somos o que somos
não sei se começa, se acaba
nem sei se quero saber.
Nada me preocupa,
nem a célebre desculpa,
nem a verdade, a mentira
a azia, ou a ira.
Não tenho medo.
Não tenho medo,
quero dormir
quero dormir seja onde for
quero acordar sem esta dor
que é a pior, a dor de pensar.

[RC]

Uns gritam estou doente
outros gritam por socorro
uns gritam sou feliz
outros gritam de sufoco
uns lamentam o que têm
outros choram por não ter
uns querem o  impossível
outros pensam 'querer é poder'
e nesta roda
nesta corda bamba
onde só se safa quem arrisca
poucos são os que percebem
muitos são os que bebem
o povo diz 'quem não arrisca não petisca'.
E o mundo gira
não em torno da razão
poucos são os que a usam
muitos falam do coração.
E eu pergunto porquê
se nem tudo o que parece é,
eu sou tudo menos o que ele vê.

[RC]

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Pensei: não me vou abaixo. Mas fui. Pensei: sou mais forte do que pensas. Mas não consegui ser. Pensei: mereço bem melhor. Mas sei que não o disse do coração. Pensei: eras tudo o que tinha. E continuo a pensar.
Quando a alma dói e a cabeça já não descansa, tudo o que me resta é recordar.

[RC]
Mas que sentimento estranho este que me prende todos os órgãos do corpo em uníssono e me deixa encurralada.
Deixa-me sair, não quero ser prisioneira de um corpo que não é meu, não quero dar a mão à dor que em tempos abandonei. Preferia ver mas não sentir a sentir e não ver.
Já nem peço para não ser, apenas para ser o que já fui.

[RC]

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Tens o mundo todo. De que adianta negares se terás sempre o mundo todo. Eu tenho o submundo, o teu submundo.
Tudo o que o vento levou não traz de volta. Tudo o que construímos, nosso amor corta.
A falta destrói mas a demasia também.

[RC]

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Há noites e noites. Há dias e dias. Há horas e horas. Há pretos e brancos. Há brancos e pretos. Há cinzentos. É nesse momento que o arrepio me entra na espinha e traz com ele a palavra que temia. Tudo está diferente, tudo foi em vão, tudo está distante. O que nem começou acabou, o que nem floriu morreu, o que nem nasceu fugiu.
E num abrir e fechar de olhos sinto-me vazia, sinto-me sozinha. O motivo pelo qual sorria num sopro desapareceu, mudou de rumo. E em três tempos esse futuro que era meu, esse futuro que era nosso já não é mais. E dou a conhecer ao mundo como é possível alguém com o mundo às costas deixá-lo fugir, como é possível alguém com tantos amigos se sentir sozinho, incompleto, sentir-se nada.

[RC]